
Convido você a ler a primeira parte desse artigo, caso ainda não o tenha feito. Todo organismo segue uma ordem funcional sistêmica e sutil.
Isso garante que todas as partes estarão integradas. O fluxo de interações dentro de um organismo poderá sofrer influência, por exemplo, um corpo humano que corre todos os dias um determinado número de minutos, horas, ou kms.
Quanto mais esse corpo se condiciona a esse tipo de alteração, ele se adapta. Agora, existe um limite adaptativo nesse organismo?
No ciclo de entregas, certamente estamos sempre em uma maratona. E é sempre nesse momento que podemos alterar também a capacidade do desempenho de um condicionamento. É a chamada sobre carga.
É com ela que um atleta a cada treino evolui no resultado físíco e técnico refletindo no resultado de uma competição, por se esforçar pouco a pouco e muito no dia da prova.
No livro de Nuno Cobra, treinador físico de Ayrton Senna (in memoriam), o autor fala da importância de considerarmos a necessidade de trabalhar as dimensões física, mental, emocional e espiritual de maneira integradas, ou seja, de maneira integral.

O que interfere em nosso pensamento?
Nuno Cobra comenta no livro a Semente da Vitória que precisamos estar atentos ao que interfere nosso pensamento.
Por exemplo, pessoas com quem nos associamos, a nossa própria mente e as distorções cognitivas. Essa é uma chave importante para mantermos o equilíbrio integral. Como se o pensamento fosse a primeira porta de entrada para o desequílibrio.

Desde de crianças não tivemos o conhecimento sobre como trabalhar nossas emoções.
Vejamos uma criança que cresce sendo associada a muita desobediência, sendo que, a causa desse julgamento certamente pode estar associada a uma frustração de um adulto querer que a criança fique quieta.

Em primeiro lugar criança é movimento. Ela desenvolve seu sistema neural e cognitivo através do movimento e das brincadeias.
Agora imagine a cognição emocional dessa criança que cresce associando-se como desobediente, que nunca para quieta por um julgamento distorcido baseada na expectativo de um adulto sem informação.

Todos tivemos uma edução limitante até certo ponto. A própria televisão nos anos 90 por exemplo estava repleto de racismo, assédios morais, exploração sexual com conteúdos apelativos.
Nesse sentido, precisamos ter auto crítica para refletir como podemos higienizar nossos pensamentos, amadurecer nossas condutas e evoluir nosso caráter de maneira assertiva.

O que isso tudo tem a haver com entregar de valor?
Quando estamos falando de entregar valor a um produto, serviço ou cliente, estamos certamente falando de relações inter pessoais.
Ao olharmos para esses sistemas de interações de maneira inter dependente, analisando funções sistêmicas ou análogas a um organismo precisamos considerar também os aspectos sutis.
Poderíamos afirmar que uma equipe, bem como seu atendimento resultante, como um arquétipo é a soma de todas as personalidades e seus respectivos pensamentos?
Ou isso não tem relação? Na teoria integral de Ken Wilber podemos encontrar uma resposta, ou na Teia da Vida de Fritjof Capra.
Nossa equipe como um todo também é uma Persona!
Também tem uma personalidade nossa empresa. Assim como na Natureza que é composta por elementos mas estes elementos compoẽm nosso corpo material e energético.

Na prática como isso se relaciona com o dia-a-dia de uma Equipe ou Squad?
Ok! Tudo bem corrermos maratonas, buscarmos performance, competitividade, e manter um rítimo de treinamento constante, evolutivo.
Entretanto, o ciclo de vida de um atleta de alto nível é geralmente curta. E nesse sentido precisamos considerar por quanto tempo queremos nos consumir dentro desse paradigma.
É possível manter esse ritmo de auto consumo, ou performance, e se preferirmos sim até quando? Como identificar os momentos mais adequados e inadequados para cada treino, prova e ciclos de treino e provas.

Nesse sentido é que trago aqui uma reflexão sobre a necessidade de utilizarmos nossos métodos, processos, frameworks de produtos e projetos para também balancearmos as cargas individuais, inter perssoais funcionais e sistêmicas de nós mesmos e nossas equipes.

Aqui algumas dimensões que compreendo serem importante mapearmos para recuperarmos a capacidade de utilizarmos os ciclos e suas respectivas etapas a nosso favor com pleno potencial.
- Dimensão Individual
- Dimensão Coletivo
- Dimensão Indivíduo-Coletivo
- Dimensão Resultante – Indivíduo-Coletivo
A minha proposta é que se soubermos gerenciar nosso auto desenvolvimento integral de maneira ágil, integrado com os ciclos da Natureza, certamente, vamos ter maior qualidade em nossos projetos e em nossas relações profissionais.
A qualidade da intervenção depende da qualidade interna da intervenção – Otto Scharmer
1.Dimensão Pessoal: A gênese da agilidade interior
“Estamos descobrindo maneiras melhores de desenvolver-nos como seres humanos auto-realizados, fazendo-o nós mesmos e ajudando outros a fazerem o mesmo..”
Você certamente poderá conhecer essa frase um pouco diferente. Ela está no manifesto ágil só que um pouco diferente:
“Estamos descobrindo maneiras melhores de desenvolver software, fazendo-o nós mesmos e ajudando outros a fazerem o mesmo.”
Vou seguir agora complementando o manifesto ágil de desenvolvimento de produtos para uma visão holística, para o desenvolvimento de seres humanos auto realizados.
As razões de um manifesto de agilidade interior:
▪ A inflexibilidade diante de necessidades de mudanças exigidas por minhas necessidades integrais (físico, mental, emocional e espiritual) não atendidas e pelas necessidades integrais da minha família.
▪ A dificuldade em ter um processo evolutivo pessoal e familiar diante das necessidades de minha alma e de minha família que permitam convivermos com ciclos de metamorfoses.
▪ As incertezas, sobretudo das fases iniciais do auto desenvolvimento individual e familiar, diante de rotinas de auto conhecimento inócuas, ocultas ou inexistentes.

Valores da agilidade interior
1. “Auto análise e terapias mais que indivíduos e interações” Indivíduos e interações são importantes, mas é mais importante refletir comigo mesmo sobre equilibrar minhas necessidades integrais (físico, mental, emocional e espiritual) juntas de forma eficiente.
2. “Terapias em funcionamento mais que planos mentais abrangentes” Uma boa reflexão ou conversa sem compromisso de auto conhecimento é útil para ajudar pessoas a entender como a mente é poderosa e como precisamos de apoio, mas o ponto principal é criar maturidade mental junto com maturidade emocional e isso só chega com a prática constante, muito esforço e acompanhamento profissional adequado.
3. “Colaboração comigo mesmo mais que com outros”
Uma atitude de colaboração com os demais é importante, mas não é um substituto para um trabalho próximo a ti mesmo para descobrir o que você precisa e não apenas o que eles querem.
4. “Responder às mudanças internas mais que seguir um plano superficial externo” Um plano pré-estabelecido é importante, mas não deve ser muito rígido, para procrastinar mudanças no ser ou na família, as prioridades das partes interessadas e a compreensão das pessoas sobre o problema e sua solução interna é sempre um acordo de respeito mútuo que visa garantir o bem estar.
Princípios da agilidade interior
1. Nossa maior prioridade é satisfazer junto com a nossa carreira o processo de desenvolvimento humano de maneira integral (físico, mental, emocional e espiritual) através da entrega contínua e adiantada de maturidade com valor agregado a nós mesmos e a nossa família.
2. Mudanças em nossas estruturas de pensamentos, crenças, rotinas, hábitos são bem-vindas, mesmo tardiamente no auto desenvolvimento. Processos ágeis tiram vantagem das mudanças de requisitos, visando vantagem competitiva para o cliente, mas também para que tenhamos mais qualidade e felicidade em nossas vidas.
3. Quais nossos objetivos de auto cuidado físico, mental, emocional e espiritual? Nossas entregas pessoais e familiares estão no mesmo desempenho que profissional? Entregar frequentemente o que precisamos entregar funcionando, de poucas semanas a poucos meses, com preferência à menor escala de tempo para os clientes e para nós mesmos.
4. Quem são os profissionais em cada dimensão: físico, mental, emocional e espiritual que nos apoiam a refletir, deliberar e evoluir? Pessoas de negócio e desenvolvedores devem trabalhar diariamente em conjunto por todo o projeto assim como nós devemos escutar as necessidades internas e de nossos familiares.
5. Como garantir nossa própria motivação? Como podemos garantir a motivação de quem convive conosco? Em seguida construir projetos em torno de indivíduos motivados será consequência. Dê a eles o ambiente e o suporte necessário e confie neles para fazer o trabalho depende antes de saber como criar este ambiente para mim mesmo.
6. Tenho reservado um tempo seguro e com apoio profissional para compreender minhas próprias dores, minhas emoções, meus sentimentos, e meus pensamentos? O método mais eficiente e eficaz de transmitir informações, para e entre uma equipe de desenvolvimento, é através de conversa face a face. Assim como investimos tempo em relações e comunicação profissional, quanto dedico para mim mesmo e meus familiares?
7. Uma rotina funcional que inclui o ser de forma integral e suas relações igualmente integrais (físico, mental, emocional e espiritual) é a medida primária para o progresso. Assim como uma entrega, um serviço, um software funcionando é a medida primária de progresso, nós também precisamos funcionar baleanceados. Nesse sentido também reforço a necessidade de lazer, ócio criativo e contemplação.
8. O que é um desenvolvimento sustentável para você? E para os demais? O primeiro passo é saber que termos genéricos são ambíguos. Os processos ágeis promovem desenvolvimento sustentável primeiramente em um nível de sustentação individual, interior. Em seguida coletivo. Os patrocinadores, desenvolvedores e usuários devem ser capazes de manter um ritmo constante indefinidamente com ressalvas.
Todos precisamos compreender os ciclos, como por exemplo a Lua, ela tem ciclos que iniciam, crescem, atinge um ápice, começam a esvaziar-se, ficam vazios e em seguida iniciam um novo ciclo.
É natural que respeitemos esses ciclos e se possível sincronizemos com os ciclos da Natureza: as estações por exemplo, tratam-se de um conhecimento ancestral que favorece muito um potencial específico: o inverno é tempo de recolhimento, para preparar-se a um novo ciclo na primavera, onde a Natureza se prepara atingir seu clímax no Verão com as chuvas.
É anti natural querer somente produzir e performar todos os ciclos. Precisamos decompor, descançar, regenerar.
9. A palavra tecnologia vem do grego techné que siginifca arte. Contínua atenção à excelência técnica (tecnologia) e bom design aumenta a agilidade. Internamente queremos oferecer atenção ao que realmente nos inspira, apaixona e entusiasma.
As artes são um meio para que esse processo revigorante nos impulsione. O que é arte para você? O que faz com que você reconheça se apaixone? O belo é tudo que atrai e nos desperta para criar. Precisamos encontrar essas conexões de forma subjetiva ou objetiva, mas devemos compreender que esse estado nos produz alegria. O que te faz alegre?
10. Simplicidade é essencial. É a arte de maximizar a quantidade de trabalho não feito, mas também de apreciar o que foi feito. E principalmente celebrar os resultados transformadores e habilidades adquiridas. O que você tem aprendido o torna mais sábio? A sabedoria é o resultado essencial da simplicidade. Para vir a ser um sábio precisamos saber apreciar tudo e a todos.
11. As melhores arquiteturas, requisitos e designs emergem de equipes auto-organizáveis. Nesse sentido, como estamos auto gerenciando nosso nosso processo de auto desenvolvimento individual e familiar? Como pratico o auto cuidado? Como expando ele para todos da minha família?
12. Em intervalos regulares, a equipe reflete sobre como se tornar mais eficaz e então refina e ajusta seu comportamento de acordo com seus princípios internos integrais para refletir externamente a sua equipe como um órgão desse organismo balanceado integralmente, saudável, equilibrado e funcional.
O que podemos concluir até aqui?
Acredito que a cultura ágil precisa ser perene e ter capilaridade para além do projeto, produto ou serviço. E que também necessita corrigir essa visão dicotômica entre vida pessoal inidividual e profissional coletiva.
O pesquisador Belga, Frederix Laloux autor do livro Reiventando as Organizações chamou isso de integralidade. Ser quem somos fora das organizações, também dentro. E se isso inclui uma espécie de agnotismo, ou seja, a busca de quem somos, está tudo bem.
Se um membro da equipe esta desequilibrado, irá refletir sistemicamente em todos da equipe. Se o objetivo é facilitar o processo de entrega de valor ao cliente, iniciemos a nós mesmo.
Se nos tornarmos auto conscientes das necessidades integrais de nosso ser e de nossa família, seremos capazes de naturalmente cumprir de maneira mais eficiente e performática os compromissos profissionais.
Se você chegou até aqui, certamente pode estar pronto para dar uma olhada nas dicas sobre auto cuidado, auto desenvolvimento e auto realização.

Vamos lá: coragem para aprofundar em seu próprio ser, foco para compreender a existência material e transcendental, comprometimento para não desviar-se do auto respeito e abertura que necessitará para evoluir como consciência.
O primeiro passo está no pensamento! É nele em que temos uma concepção de visão de mundo. Atualmente o que somos ou o que acreditamos que somos é muito limitado. Por exemplo, você acha que é de uma nacionalidade, de um gênero, de uma idade, mas isso são conceitos condicionados e materiais. É o famoso, orai e vigiai.

O segundo passo é expandir esse conceito que temos sobre nós mesmos, materialmente e espiritualmente. Você já se perguntou qual é a sua razão de ser? O que é felicidade? E o que precisa fazer para alcançar esse resultado transformador?

O terceiro passo é narrativa e análise! Precisamos revelar nossa mente e compreender a nós mesmos e para isso falar é uma boa técnica. Ao falar, nos escutamos. Ao nos escutar compreendemos melhor nossos desafios, traumas, bloqueios, limitações e crenças limitates. A saúde mental agradece!

O quarto passo é compreender nossas emoções e sentimentos e suas origens. Você já ouviu falar dos campos de dor? Muitas vezes os conflitos, ruídos de comunicação, distanciamentos e indiferença tem uma causa diferente do que nos afetou.
Por exemplo, alguém da minha equipe me gera uma dor com sua opinião. Me afeta emocionalmente, entretanto, a causa, a origem dessa dor não é necessariamente a opinião e sim um evento que está associado a esse sentimento, a uma emoção. Uma ferramenta muito prática para isso é a CNV – Comunicação Não Violenta de Marshall Rosemberg.
Ele nos ensina técnicas de escuta ativa e empática, identificação de emoções e comunicação assertiva.

O quinto passo tem relação com o equilíbrio comportamental em diveras dimensões de nossas vidas. Um método que gosto muito são os níveis de consciência de Richard Barret.
São sete níveis que ele comenta sobre as organizações, e que são avaliadas nos indivíduos da organização. Em síntese temos valores que nos ajudam a manter um norte, ou melhor, nos apoiam para estarmos balanceados nesses setes níveis.
Eu posso querer ser um filântropo mas se não consigo sobreviver, ou mes sustentar, certamente não atingirei meu objetivo.

O sexto passo eu colocaria as chamadas Práticas Integrativas Complementares. Todas as terapias que nos apoiam de maneira integral como homeopatia, acumputura, florais, astrologia, artes marciais, esportes, lazer são meios que podemos usufruir para equilibrar uma existência VUCA. Antes do mundo ser VUCA, as pessoas são ou se tornaram VUCA?

O sétimo passo para fechar de forma cabalistica, seria uma análise depois de todo esse ciclo sobre a maturidade em que estamos e que queremos alcançar. Afinal, o que não é medido, não é melhorado!
Aplicando um método Kapa, onde 1 é um indivíduo sem auto gestão integral e 5 um indivíduo super consciente sobre sua auto responsabilidade de gestão integral, vamos brilhar em nosso Squad!

Analisando alguns dados sobre como tenho entregado valor a mim mesmo:
Tenho alguns acordos que tenho feito comigo, são meus compromissos essenciais que me ajudam a manter esse desenvolvimento integral ativo, contínuo e relevante:
1. Quero estar cada vez mais consciente sobre os ciclos internos e externos da Natureza.
2. Quero sincronizar-me com esses ciclos da Natureza, reconhecendo que também sou parte da Natureza. Quando nos separamos do que nos sustenta, diversas anomalias surgem. Uma dessas é a ausência de auto cuidado e a diversão.
3. Decidi se parte da mudança que quero ver no mundo, por isso tenho realizado práticas holísticas como meditação e yoga com o propósito de escutar meu coração e comprender o que minha alma está me comunicando.
4. Estou revisitando a cada ciclo minha maturidade integral e meu nível de consciência com o objetivo de gerenciar novos ciclos de crescimento e aprendizagens por meio de investigações, empreendimentos, vivências ou cursos.

Meu IKIGAI (razão de ser) está sempre me ajudando a lembrar de todas as dimensões (paixão, missão, vocação e profissão) que nutrem meu ser e minha existência. Isso me ajuda a manter meu auto cuidado em dia. Somos seres multidimensionais, e multidisciplinares assim como uma SQUAD.
Como está a relação entre o seu Discovery (Descobertas) e suas Deliverys (Entregas) internas e pessoais?

Ainda vou ter um painel desses abaixo para gerenciar meu processo ágil interno de auto desenvolvimento pessoal e familiar!

Cabe ainda produzir uma parte três desse artigo para focar na gestão de desenvolvimento familiar com conceitos do manifesto ágil interior!
Em breve volto com mais experimentos pot puri agora incluíndo também a governança dinâmica! Voltando ao backlog para uma nova sprint auto evolutiva!
Celebrado por Diogo de Castro Lopes
dl@loopes.com.br